Italira Falcetta da Silva, 81 anos, deu entrada no Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre, no dia 18 de janeiro, para fazer uma cirurgia vascular nas pernas. O procedimento foi realizado com sucesso no dia 27 de fevereiro, uma quinta-feira. No dia seguinte, ela foi liberada para ir para um quarto, onde poderia ser acompanhada por familiares.

Filha de Italira, Paola Falcetta, conta que, naquela sexta-feira, a família recebeu a notícia de que um médico residente que participou do tratamento não poderia visitar a mãe na semana seguinte porque tinha testado positivo para a covid-19. Paola foi a primeira a apresentar sintomas da doença, na segunda-feira seguinte, mas a mãe logo adoeceria também. “Na verdade, no final de semana, ela já estava com sintomas, mas como ela tossia por causa de um enfisema, não se deram conta. Fizeram um exame de sangue e deu que ela estava com algum tipo de vírus e começaram a dar um antibiótico”, diz Paola. Apenas na quarta-feira posterior, Italira fez o teste de covid, que também teve resultado positivo. “A gente desconfia que ela pegou dele [do médico], e que eu, a minha irmã e o meu sobrinho pegamos dela”.

Italira foi então para o isolamento no dia 3 de fevereiro. “Aí que veio a decaída da saúde da minha mãe. Ficar isolada, sozinha, começou a ver um monte de gente morrer. E aí veio a óbito no dia 2 de março”, diz.

Após passar alguns dias processando a morte da mãe, Paola, que é assistente social e ativista dos direitos humanos, ligou para um amigo que já havia atuado na militância dos direitos da população portadora de HIV, com o objetivo de compreender o que poderia ser feito para cobrar responsabilidades do poder público pelo que considerou ser descaso perante as mortes. Esse amigo era o advogado e ativista Gustavo Bernardes, que já tinha tido uma experiência pessoal com a covid-19 no final de 2020. Ele passou cerca de 20 dias hospitalizado, dos quais 10 intubado na UTI. “Eu tive muitas sequelas depois. Levei quase três meses para me recuperar”, diz.

A Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 (Avico) foi criada oficialmente nesta quinta-feira (8), em reunião que formalizou Gustavo como presidente e Paola como vice. Gustavo explica que os grupos de WhatsApp que debatem o tema reúnem mais de 50 pessoas, das quais cerca de 20 se associaram formalmente na quinta. Agora, eles estão no processo de formalização do registo e de criação de um CNPJ para a entidade. “A partir disso, vamos começar a trabalhar. Eu acho que essa associação veio para botar o pé na porta, para dizer ‘olha, vocês estão falando de nós, mas não sem nós’”, diz.

A Avico tem como objetivo representar os interesses dos associados, promovendo apoio jurídico, social e psicológico para vítimas e familiares de vítimas da covid-19, além de poder ajuizar ações judiciais quando entender que direitos de seus associados estejam em risco. A associação pretende ainda promover debates sobre a doença e as consequências físicas, psicológicas e cognitivas deixadas por ela, bem como defender a saúde pública, o SUS, a vacinação em massa e apoiar a pesquisa e desenvolvimento de ações de enfrentamento à covid-19. “Nós queremos também a possibilidade de ações coletivas para responsabilização de autoridades que se omitem diante da pandemia”, afirma Gustavo.

A íntegra das informações está disponível no site Sul21.

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