Ao completar os seus 100 primeiros dias, o governo de Eduardo Leite (PSDB) reivindica uma marca: a abertura ao diálogo. Foi o que o governador defendeou em coletiva de imprensa concedida nesta terça-feira (9) a respeito de seu mandato. “Mantivemos uma agenda de diálogo que ajuda a viabilizar um bom ambiente de progresso”. Também é o que diz o secretário-chefe da Casa Civil, Otomar Vivian (PP), quando solicitado pela reportagem a fazer uma avaliação do início do governo. “Ao completar 100 dias do governo Eduardo Leite e Ranolfo Vieira Júnior, acho que executamos com êxito a principal tarefa ao que governo se lançou, criar um ambiente disposto ao entendimento e a progredir”, disse. Mas será que o governo está de fato promovendo o diálogo? Em matéria publicada nessa quarta-feira (10), o Sul21 ouviu a opinião de deputados iniciais sobre a nova gestão. Dessa vez, a avaliação fica por conta de entidades representativas.

Presidente do sindicato dos agentes da Polícia Civil (Ugeirm), Isaac Ortiz avalia que, na área da segurança pública, há de fato uma evolução no diálogo entre governo e trabalhadores, o que, segundo destaca, passa pela articulação do vice-governador e secretário de Segurança Pública, Ranolfo Vieira Júnior (PTB), que é delegado aposentado e chefiou a PC durante o governo de Tarso Genro (PT). “O atual secretário é um homem que conhece a segurança pública. Temos uma interlocução que a gente não tinha no governo passado. Conseguimos levar as nossas demandas, o governador tem nos recebido. O diálogo melhorou muito”, diz Ortiz.

Ele ressalva que há pontos em que o governo precisa dar sinais melhores. A Ugeirm mantém como uma das suas principais reivindicações junto ao governo estadual o fim da superlotação das carceragens de delegaciass, o que faz com que, nos últimos anos, tenha sido uma cena comum no Estado presos mantidos algemados em viaturas, a cadeiras e até a lixeiras. Este é um problema que tem se repetido na gestão Leite. Contudo, ele ressalva que ao menos um canal de diálogo foi aberto e que os servidores da Civil querem contribuir para a melhoria dos indicadores de segurança no RS. “Pelo menos já estamos sendo recebidos e estamos conversando”, diz.

Quando Leite esteve na sede do CPERSS, em 6 de fevereiro deste ano, foi a primeira vez em quase quatro anos que o sindicato dos professores e funcionários de escolas do Rio Grande do Sul conseguiu uma audiência direta com o governador do RS — José Ivo Sartori só recebera o sindicato no início da sua gestão. No encontro, Leite aproveitou para tocar a sineta, símbolo das manifestações dos professores nas últimas décadas.

Contudo, a presidente do sindicato, Helenir Aguiar Schurer, cobra do governo mais do que dizer que está aberto ao diálogo. O CPERS questiona, por exemplo, que após 100 dias ainda perduram indefinições em questões básicas da educação estadual, como calendários escolares e turmas que ainda não foram homologados, o que faz com que professores estejam dando aulas sem saber se permaneceram trabalhando com os mesmos alunos ao longo do ano. “Quando não há homologação das turmas, há uma incerteza se os professores e funcionários ficarão. O que a gente pode avaliar é que não temos condições de avaliar de forma mais correta porque está deixando muito a desejar na área da educação pela confusão que ainda temos nas escolas”, diz.

Helenir também critica o governo pela manutenção da política de fechamento de turmas e realocação do quadro de pessoal da Secretaria de Educação, o que faz com que, em algumas escolas, professores que atuavam na biblioteca tenham sido transferidos para a sala de aula, fazendo com que os espaços sejam fechados. Cita também a redução da disponibilidade de orientadores e supervisores nos colégios. “Tem escolas em ambientes violentos que funcionam em três turnos, mas têm orientação em apenas um deles. Como um diretor vai escolher se precisa de orientação de manhã, de tarde ou de noite? Tu não pode poupar recursos quando tu desorganiza a estruturação ideal da escola”, diz.

A última cobrança de Helenir para o governo é em relação ao pagamento dos salários dos servidores. “Na campanha, o governador Leite dizia que o atraso era uma questão de gestão. Nós estamos aguardando o posicionamento do governo para voltarmos a ter dia para receber. De preferência, dentro do mês, como manda a Constituição”.

A íntegra das informações está disponível no site Sul21.

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