A Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul debateu na manhã dessa quarta-feira (8), em audiência pública, os impactos causados pelo uso do agrotóxico 2,4-D no Estado. Apesar de há anos ser apontado como um dos agrotóxicos mais perigosos sem que nenhuma medida fosse tomada para o seu controle, o debate sobre o herbicida tem ganhado força à medida que cada vez mais produtores apontam que o seu uso em lavouras de soja, especialmente, tem sido responsável pela queda na produção de uvas, oliveiras, maçãs, fumo, erva mate, entre outras culturas do Estado. Isso acontece por causa da deriva do 2,4-D, que é a capacidade dele ser levado pelo vento a distâncias que superariam mais de 15 km do local onde foi aplicado originalmente.
O debate sobre o agrotóxico tem gerado um verdadeiro confronto judicial entre sojicultores e viticultores. Um levantamento do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) estima, somente para 2019, um prejuízo de R$ 100 milhões. Por sua vez, os produtores de soja dizem que não há alternativas ao 2,4-D e que sua proibição traria grandes prejuízos ao setor. A partir das denúncias de prejuízos, o promotor de Justiça do Meio Ambiente do Ministério Público, Alexandre Saltz, conduz um inquérito civil para apurar os prejuízos causados em culturas como uva, maçã, pêssego, kiwi, oliveiras, entre outras. O inquérito constatou que a quase totalidade das análises realizadas em parreirais, oliveiras e macieiras de diversos municípios gaúchos apontaram contaminação pela herbicida.
Proponente da audiência pela Comissão de Saúde da AL, o deputado estadual Edegar Pretto (PT) afirmou que a encontro teve o objetivo de buscar uma solução para o problema. Pretto é autor de um projeto de lei que tramita desde 2014 na Assembleia Legislativa pedindo a proibição do uso do 2,4-D no RS. Apesar de o projeto nunca ter sido apreciado, ele o reapresentou na atual legislatura e avalia que, dado ao contexto atual, ganhou força para ser apreciado.
O deputado disse que acompanha a situação dos prejuízos causados pelo 2,4-D desde 1997, quando era secretário municipal de Novo Barreiro, cidade localizada na região de Palmeira das Missões, e ouviu os primeiros relatos de agricultores que tiveram sua produção afetada pelo uso do herbicida. Segundo Pretto, o município decidiu proibir o uso de 2,4-D pelos produtores locais e os problemas cessaram temporariamente, mas voltaram posteriormente, porque a aplicação em cidades vizinhas continuava. “O 2,4-D vai muito mais longe do que o local onde é aplicado. O vento não tem cerca”, disse. Ele destaca que uma fiscalização por amostragem feita em 23 municípios pela secretaria estadual de Agricultura apontou que, de 81 amostras coletadas, 69 estavam contaminadas pelo 2,4-D. Também salientou que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) considera o 2,4-D como extremamente tóxico e que estudos da Fiocruz relacionam este herbicida a casos de malformação de fetos, abortos espontâneos e câncer. “Nós queremos que a vida e a natureza estejam acima do lucro. Mas, aliás, se falarmos de lucro, também estamos tendo prejuízo”, disse.
Outro proponente da audiência, o deputado federal Afonso Hamm (PP) destacou que há anos produz uva e soja em suas propriedades, na região de Bagé, e que percebe que o uso do 2,4-D tem colocado em risco a diversidade de culturas no RS. Ele diz que, somente em uma safra, a produtividade da uva caiu em 60% por causa da deriva do 2,4-D. Por outro lado, diz que tem usado produtos alternativos e o custo de produção aumentou em apenas uma saca por hectare. Ele defendeu que a comercialização e a utilização do produto deveriam ser suspensas por um ano para que fosse feita uma avaliação da questão. “Não existe só lavoura de soja, não existe só viticultura, é preciso respeitar a diversidade”, disse.
A íntegra das informações está disponível no site Sul21.
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