No dia 11 d maio de 2017, o então procurador-geral da República Rodrigo Janot se aproximou do ministro Gilmar Mendes na antessala do plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), com a intenção de matá-lo. Janot trazia sob a toga uma pistola e chegou a ficar a dois metros de Mendes, que nada teria percebido. O crime só não aconteceu porque as mãos do procurador tremeram.
A história foi revelada pelo próprio Janot à edição desta semana da revista Veja e estará no livro autobiográfico “Nada Menos que Tudo”, que ele pretende lançar no começo de outubro. Além das memórias, ele diz que irá narrar bastidores da Lava Jato. “Quando procurei o gatilho, meu dedo indicador ficou paralisado”, conta o procurador à revista. “Eu sou destro. Mudei de mão. Tentei posicionar a pistola na mão esquerda, mas meu dedo paralisou de novo. Nesse momento, eu estava a menos de 2 metros dele. Não erro um tiro nessa distância. Pensei: ‘Isso é um sinal’. Acho que ele nem percebeu que esteve perto da morte. Depois disso, chamei meu secretário executivo, disse que não estava passando bem e fui embora. Não sei o que aconteceria se tivesse matado esse porta-voz da iniquidade. Apenas sei que, na sequência, me mataria”. Janot e Mendes tiveram várias discussões públicas e trocas de ofensas durante a fase mais acirrada da Lava Jato.
Na entrevista à Veja, Janot disse também que se arrepende de ter delegado à força-tarefa de Curitiba tanto poder. “No início da operação, a força-tarefa de Curitiba pediu que eu delegasse a ela o direito de fechar as primeiras colaborações premiadas. Deleguei e me arrependi. As delações do Paulo Roberto Costa e do Alberto Youssef estavam muito rasas. O primeiro inquérito contra o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, também estava muito ruim. Questionei a respeito. Recebi como resposta que o objetivo deles era ‘horizontalizar as investigações, e não verticalizar’. Achei estranho. Determinadas decisões poderiam estar sendo tomadas com objetivos políticos? Os procuradores decidiram, por exemplo, denunciar o ex-presidente Lula por corrupção e lavagem de dinheiro e, no caso da lavagem, utilizaram como embasamento parte de uma investigação minha, que eu nem tinha concluído ainda.”, disse.
Contraditoriamente, Janot afirma que não considera que houve interesse político por trás da investigação que levou o ex-presidente Lula à prisão e facilitou a eleição de Jair Bolsonaro que, por sua vez, nomeou Sergio Moro, juiz da Lava-Jato, ministro da Justiça. “Não houve nenhum complô político. Depois que o Sergio Moro aceitou o convite para assumir o Ministério da Justiça no governo Bolsonaro, voltei a refletir sobre o assunto. Como juiz, ele fez um trabalho técnico, bem feito. Até agora, do que apareceu dessas conversas do The Intercept, no máximo pode haver algum questionamento de caráter ético na condução do processo, algum questionamento sobre imparcialidade. Mas tecnicamente não vi nenhuma contaminação de provas”, conta.
As informações são do site da Revista Fórum.
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