No dia 20 de março, o ministro Paulo Guedes prometeu uma retomada pós-coronavírus em V: tão rápida quanto a queda. “Vamos surpreender o mundo”, disse o ministro, em entrevista para o canal de um banco no YouTube. À época, o Brasil tinha 977 casos da doença e 11 mortes. Um mês e meio depois, são 122 mil infectados e 8 mil mortos. Estudos apontam o Brasil como novo epicentro global da pandemia. E o mundo tem se surpreendido, na verdade, com a incompetência do governo frente à crise.
As expectativas do mercado financeiro caem paulatinamente. A edição mais recente do Boletim Focus, divulgada na segunda (04), projeta uma queda de 3,76% no PIB. Na semana anterior, a estimativa era de 3,34%. Banco Mundial e FMI preveem uma contração na casa dos 5%.
Com isolamento em baixa, subnotificação em alta e estiramento das previsões para o pico de contágio, a ruína social e econômica podem ser ainda pior. O Grupo de Indústria e Competitividade do Instituto de Economia da UFRJ projetou três cenários: otimista, pessimista e de referência (moderado). Em todos eles, há efeitos perversos da pandemia sobre o PIB, emprego, renda e arrecadação. No mais crítico, o tombo do PIB chega ao recorde de 11%, com 14,7 milhões de empregos a menos.
Já as quedas previstas de arrecadação de impostos (de 4,1%, 8,2% e 13,9%, respectivamente) são superiores às retrações do PIB. O modelo se baseia na Matriz Insumo-Produto de 2017, estabelecida pelo IBGE, dentro do sistema de Contas Nacionais. A previsão mais esperançosa considera uma recuperação em V, como quer Paulo Guedes: rápida, após um isolamento curto e eficaz, e atuação federal efetiva para minimizar impactos às pessoas e empresas. Leva em conta uma retomada mundial também veloz, ainda no segundo semestre, puxada pela China. Nesse cenário, o recuo estimado é de 3,1%, com potencial redução de 4,7 milhões de ocupações. No cenário de referência, a queda seria de 6,4% no PIB, com 8,3 milhões de empregos a menos.
O encolhimento da força de trabalho brasileira pode ser consequência tanto da demissão de trabalhadores quanto da queda das horas trabalhadas. Comércio e serviços, somados, contribuem com mais da metade dessa potencial redução. Ambos os setores empregam justamente os trabalhadores pior remunerados, o que tende a alargar fosso entre ricos e pobres.
As informações são do site da Carta Capital.
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