Um levantamento realizado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) aponta que o Brasil tem um déficit de 18,2 mil leitos hospitalares no Sistema Único de Saúde atualmente. Segundo os dados, a desativação progressiva dessas unidades de saúde vem ocorrendo desde 2011. O déficit foi amenizado durante a pandemia do novo coronavírus (Sars-coV-2), com a criação de hospitais de campanha no país, no entanto ainda é grave, apontam especialistas. Em 2011, o déficit era de 41 mil leitos de internação no SUS. Desde o início da pandemia, foram criados 22.810 mil leitos.
A situação é mais preocupante no Rio de Janeiro, estado que acumula uma perda de aproximadamente 9.300 leitos em 2020. Em seguida, de acordo com o CFM, está São Paulo, com 2.677 leitos a menos desde 2011. O terceiro estado com a situação mais crítica é Minas Gerais, com déficit de 2.643 leitos.
Entre janeiro de 2011 e janeiro de 2020, 20 estados perderam leitos do SUS. Com saldo positivo de leitos, sobraram apenas Rondônia, Roraima, Tocantins, Espírito Santo e Mato Grosso. Amapá e Santa Catarina permaneceram estáveis.
Segundo Hilderaldo Cabeça, médico e porta-voz do CFM, o gargalo no atendimento público já era algo preocupante em 2011. Agora, em uma realidade pós Covid-19, a situação tende a se agravar, mesmo que o déficit geral de leitos tenha sido reduzido. “Existe sempre uma desculpa de que o valor é insuficiente para investimentos. Se o problema já existia em 2011, com uma população de 192 milhões de pessoas, imagina agora, com 209 milhões. O déficit continua aumentando”, afirma Cabeça.
Para o especialista, a realidade econômica a ser vivenciada pelo Brasil durante a crise causada pelo coronavírus vai interferir diretamente na necessidade de leitos hospitalares do SUS. “Do ponto de vista econômico, muito provavelmente teremos uma população com dificuldade de se manter em planos de saúde. Muitos ficarão sem empregos”.
O levantamento do Conselho Federal de Medicina também chama atenção para o fechamento dos hospitais de campanha. No Rio de Janeiro, o governo decidiu, no último dia 17, fechar os hospitais de campanha do Maracanã e de São Gonçalo. Apesar da promessa de sete unidades do tipo para atender pacientes com Covid-19, esses dois foram os únicos inaugurados, porém já interromperam os atendimentos. Os pacientes foram transferidos a outros hospitais.
Já em São Paulo, o hospital de campanha do Pacaembu também encerrou as atividades no final de junho, após erguer estruturas de atendimento para 200 pacientes. O acordo previa o funcionamento do local até o final de julho.
Cabeça aponta que uma solução para reverter a falta de leitos seria tentar incorporar os hospitais de campanha ao sistema público de saúde. “Os gestores precisam ter um olhar para a infraestrutura, usar os recursos de forma adequada e melhorar os subfinanciamentos. É necessário olhar para o SUS com um olhar menor. Essa quantidade de leitos não pode continuar caindo, pois a população está aumentando. Essa conta não vai fechar”, afirma.
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