Salários atrasados, cortes injustificados, demissões em massa e sem o pagamentos dos direitos trabalhistas. Essa tem sido a realidade de professores e funcionários da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade (CNEC), grupo privado de ensino fundado há 75 anos, com mais de 200 instituições entre educação básica e superior, em 18 estados e no Distrito Federal. Conhecida no Rio Grande do Sul como Rede Cenecista, é composta por 16 colégios e 5 faculdades em solo gaúcho — recentemente, uma escola em Charqueadas fechou e a faculdade em Nova Petrópolis está em processo de encerramento das atividades.
A deterioração das relações de trabalho tem assustado os profissionais, pois a crise de gestão é generalizada nos demais estados do país. Somente nos últimos meses, em torno de 15 instituições foram fechadas Brasil afora. Os salários de março e abril dos professores foram pagos incompletos, com descontos que variaram de 20% até 40%, com muitos docentes nem sequer tendo acesso ao seu contra-cheque. No último dia 5, a situação se repetiu com os salários relativos ao mês de maio. Há redução no valor da hora/aula e cortes no adicional por mestrado e doutorado. Na unidade de graduação em Joinville, os professores estão em greve.
Em Osório, o Colégio Cenecista Marquês de Herval, cuja unidade abriga também o Centro Universitário Cenecista, é uma das instituições mais afetadas no Rio Grande do Sul. Entre março e abril, 115 funcionários foram demitidos, alguns com mais de 20 anos de empresa, sem o devido pagamento da rescisão e demais direitos. Há relatos de trabalhadores demitidos que não recebem nem o FGTS. Sob condição de anonimato para evitar represálias, professores contam que a situação é de extremo desgaste emocional e físico. Com as aulas ocorrendo no modelo à distância, em função da crise causada pelo novo coronavírus, a denúncia é de estarem trabalhando uma carga horária ainda maior, e sem saber quando receberão os salários atrasados e quanto ganharão no mês seguinte.
O reitor do Centro Universitário Cenecista foi demitido em abril e, desde então, a instituição está sob comando do diretor da faculdade de Gravataí, que por sua vez também responde pela unidade de Santo Ângelo, cujo reitor também foi demitido.
Com a sede da Rede CNEC localizada em Brasília, as instituições espalhadas pelo Brasil têm pouca autonomia para explicar a situação. Em Osório não é diferente, com professores e funcionários se sentindo abandonados, sem diálogo produtivo com a diretoria. Em busca de contornar o problema, dezenas de docentes pediram ajuda ao Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro/RS), como canal para intermediar uma negociação com os donos do grupo de ensino. E assim foi feito em abril, quando se estabeleceu contato com a mantenedora, em Brasília. Desde então, houve uma série de reuniões e conversas, porém, sem avanços até aqui. “O problema é que estavam querendo fazer reduções muito drásticas, em algum casos, de até 50% do salário”, explica Sani Cardon, diretor de administração do Sinpro/RS. “Não conseguimos avançar porque estavam querendo precarizar demais as condições dos professores”. Segundo Cardon, no caso da escola em Charqueadas, a proposta da mantenedora era pagar menos do que o piso salarial. Sem acordo, os donos decidiram fechar o colégio.
Na mesa de negociação, o argumento dos donos da Rede CNEC é a inadimplência dos alunos devido à atual crise sanitária e econômica. Uma justificativa que, de acordo com professores, não procede, visto que as demissões sem o pagamento do que é direito e os cortes salariais começaram antes da pandemia. “Eles estão querendo se aproveitar da pandemia para ‘resolver’ problemas”, avalia Sani Cardon. Para ele, se o problema fosse mesmo a crise do coronavírus, seria plausível algumas reduções por um período determinado, mas a mantenedora não concorda. Os donos querem tornar os cortes definitivos.
A íntegra das informações está disponível no site Sul21.
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