Trabalhar de casa, estar informado e, por que não, se divertir um pouco. Para todas essas necessidades, o rádio.

A tragédia da Covid-19 ressaltou a importância do rádio como veículo de massas, causou uma mudança de hábitos e potencializou ainda mais a sua audiência.

A pesquisa Visual Capitalist, realizada nos EUA e na Inglaterra, com 14 mil pessoas entre 16 e 64 anos, revela que a audiência do rádio durante a pandemia cresceu em todas as gerações, até mesmo na denominada Geração Z. Sim, 17% dos jovens entre 16 e 23 anos passaram a ouvir mais rádio. No grupo dos Millennials – 24 a 37 anos – o crescimento foi de 26%. Entre os Boomers (57 a 64 anos) 15%. E 38% dos que compõem a Geração X (38 a 56 anos) afirmam ouvir mais rádio.

Uma pesquisa da Nielsen feita nos EUA identificou um crescimento na audiência das rádios jornalísticas, as chamadas “all news” ou “talk news”. Este crescimento deve-se muito a quem ficou em isolamento social. E as rádios musicais também registraram aumento de ouvintes, principalmente pelas pessoas que saíram para trabalhar em serviços essenciais.

A necessidade de se informar e de ouvir música – aliada à ausência da programação esportiva ao vivo – acabou por determinar o crescimento da audiência das rádios jornalísticas e musicais.

A pesquisa realizada pelo Target Group Index Flash Pandemic em julho explica em parte essa nova realidade da audiência do rádio. Ao analisar o comportamento dos mercados brasileiro e latino americano, identificou-se que a maioria do público que ficou em casa é formado por mulheres (54%), pelos mais jovens (30% entre 16 e 24 anos) e pelos mais velhos (13% entre 65 e 75 anos).

E na pós-pandemia, qual será o “novo normal” do rádio? Invoquemos o compositor Baeta Neves, o Didi, na voz de Simone: “Como será amanhã? Responda quem puder”.

Mesmo na incerteza, nem arautos do caos – aqueles que preconizam a morte do rádio a cada nova tecnologia – conseguirão fugir da sua presença e da sua importância no Brasil. De cada 100 pessoas, 83 ouvem rádio. E três em cada cinco brasileiros ouvem todos os dias. Durante a pandemia, uma pesquisa realizada em abril pela Kantar Ibope Media identificou que 20% dos brasileiros estão ouvindo mais rádio durante a quarentena. Em média, as pessoas ouvem 4h10min de rádio por dia.

Sobre a credibilidade do veículo, 50% das pessoas confiam nos programas jornalísticos de rádio, 21% confiam em parte, 11% não confiam e 17% não utilizam o meio. O efeito fake news impacta diretamente no desempenho das redes sociais: apenas 12% afirmam confiar nas informações compartilhadas via WhatsApp e Facebook.

Apesar de todo o crescimento da Internet e das opções da plataforma, 84% das pessoas ainda ouvem rádio pela transmissão AM ou FM durante o isolamento.

Eu, que quando criança ouvia com atenção as sessões de recados da Rádio Cacique, de Lagoa Vermelha, me emocionei com algumas iniciativas na área da educação durante a pandemia, ações que reforçam o caráter comunitário do rádio. A Timbira AM, emissora pública do Governo do Maranhão, formou uma rede e transmitiu aulas para alunos do interior do estado com dificuldade de acesso à Internet. Em Limoeiro (PE), uma professora buscou ajuda de um aluno locutor de apenas 16 anos para transmitir aulas numa pequena rádio comunitária da cidade.

Aqui na Agência Radioweb, entendemos que a missão mais nobre do radiojornalismo é levar informação e cidadania à população. E as nossas mais de 2.000 rádios afiliadas ecoam as vozes da reportagem da Radioweb para 150 milhões de brasileiros.

Nesta pandemia a nossa cobertura sobre a Covid-19 alcançou mais de 500 mil veiculações em rádios de todo o País. Foram 2.100 matérias sobre medidas de prevenção, isolamento social, formas de contágio, situação hospitalar no País, condições dos trabalhadores da saúde, além dos números diários relativos à doença. O nosso trabalho chegou a 2.500 emissoras comerciais, comunitárias e educativas, presentes em 1.700 cidades brasileiras.

Se por um lado o rádio enquanto veículo se fortalece nesse triste episódio do novo coronavírus, o mesmo não ocorre com quem está ao microfone. O vírus invadiu os estúdios e calou muitas vozes, entre elas a do José Paulo de Andrade, apresentador do Pulo do Gato, na Rádio Bandeirantes de São Paulo. Esta morte me tocou de uma forma particular, pois fui apresentador deste mesmo programa na Band AM 640 de Porto Alegre por dois anos e meio.

Falando aos brasileiros desde 1922, o rádio sempre demonstrou muita saúde em meio a crises políticas e humanitárias, nas calamidades, nas guerras, nas tragédias. Próximo ao seu centenário, apesar das incertezas, o meu diagnóstico é de longa vida para o rádio. E também para o radiojornalismo.

Paulo Gilvane Borges é diretor-geral da Agência Radioweb.

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