Para dar conta de todos os boletos que chegavam em casa, a promotora de vendas Valdirene Vieira, de 26 anos, teve que fazer escolhas. Ligou para a empresa de telefonia e pediu para cancelar a linha fixa da sua residência, no bairro do Jaçanã, zona oeste da capital paulista. Dessa maneira, ela conseguiria pagar a conta de luz naquele mês. A decisão, na verdade, não foi bem uma opção: até um mês atrás, Valdirene, que é mãe de uma bebê de dois anos, estava desempregada, apenas fazendo bicos. Ela e o marido tinham que fazer um jogo de cintura para conseguir arcar com todas as dívidas domiciliares. “Depois, quando eu voltar a trabalhar, com algo temporário, eu retorno com outra linha [de telefone]. Já contas de luz e água, o que eu fazia era: pagava uma que estava quase vencendo e deixava outra e assim você ia pagando uma e depois outra”, explica Valdirene.
A situação de Valdirene não é incomum e se repete pelo país. O percentual de famílias brasileiras com dívidas, com atraso ou não, chegou a 62,4% em março deste ano. O índice é superior aos 61,5% de fevereiro e aos 61,2% de março do ano passado, em 2018. E também é o maior patamar de endividamento de famílias brasileiras desde 2015. Os dados são da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
O economista Fausto Augusto Junior, coordenador de Educação do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), explica que o número, por si só, não refletiria um panorama econômico ruim. “O crédito é uma coisa importante quando se pensa o endividamento econômico e o aquecimento da economia”, pondera ele.
“Alguns tipos de dívida, inclusive, são boas. Se você está em um endividamento de casa própria isso é interessante; não só para você — porque você está caminhando para ter um investimento de longo prazo — mas também para a própria economia, porque a venda de imóveis puxa toda a cadeia econômica.”
O que o especialista vê como um problema nos dados divulgados pela CNC, na realidade, é a alta taxa de inadimplência. As famílias inadimplentes, ou seja, aquelas que têm dívidas ou contas em atraso, representam 23,4% em março deste ano. O dado é acima dos 23,1% do mês anterior. “Ou seja, nesse momento, temos um problema que é que as pessoas não conseguem honrar as suas dívidas. Isso é um dado até um pouco mais grave do que o anterior”, diz o economista, que pontua que o dado sempre deve ser analisado conjuntamente com a taxa do desemprego no país.
A íntegra das informações está disponível no site Brasil de Fato.
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