Indígenas e pretos foram as maiores vítimas por covid-19 em 2020 no Rio Grande do Sul, primeiro ano da pandemia do novo coronavírus que abalou o mundo. Entre os indígenas, a taxa de mortalidade foi 138 mortes por 100 mil habitantes e, entre pretos, de 137,9 óbitos por 100 mil habitantes. Já entre os brancos, a taxa de mortalidade foi cerca de 40% menor, de 81,2 mortes por 100 mil habitantes.
Os dados são de estudo publicado recentemente por um grupo de pesquisadores do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde (PPGCS) da Universidade Federal de Rio Grande (FURG). A pesquisa analisou informações referentes a todos os estados brasileiros e suas respectivas capitais, com o objetivo de calcular as taxas de mortalidade por covid-19 entre as diferentes etnias e raças. O resultado revela um cenário de grande disparidade étnico/racial nas mortes por covid-19 no Brasil.
Entre as capitais, Porto Alegre foi a que teve a maior taxa de mortalidade entre pretos: 312,3 mortos por 100 mil habitantes. Em segundo lugar ficou Vitória (ES), com 299 mortes por 100 mil habitantes, seguida pelo Rio de Janeiro (RJ) com 298.8 mortes de pretos por 100 mil habitantes. A taxa de mortalidade entre pretos na Capital gaúcha ficou muito superior à taxa de óbitos entre brancos, de 169,6 mortes por 100 mil habitantes.
O estudo, orientado pelo professor Flavio Rodrigues, coordenador da Pós-Graduação em Ciências da Saúde da FURG, coletou dados de mortes por covid-19 no ano de 2020 do Portal da Transparência do Registro Civil de Óbitos, uma base de dados governamental de acesso aberto. Devido a emergência da pandemia, na ocasião foi acrescentada à base de dados um campo específico para mortalidade por covid-19, junto com outras doenças que já existiam, como morte por problemas cardiovasculares, respiratórios, entre outras.
A pesquisa mostra que as taxas de mortalidade por covid-19 foram maiores entre não-brancos (pretos, pardos ou indígenas) em 25 estados do país. A situação se repetiu entre as capitais, com 26 delas tendo maiores taxas de mortalidade por covid-19 entre não-brancos — a exceção foi Brasília.
O estudo traz à tona um cenário muito desigual entre os estados brasileiros. No Nordeste, a população parda foi a mais afetada, enquanto no Centro-Oeste e em alguns estados da região Norte foram os indígenas que tiveram a maior taxa de mortalidade. Já o Sul e o Sudeste foram as região com as maiores taxas de mortalidade de pessoas pretas. Ao considerar as diferenças regionais do Brasil, o professor da FURG confessa ter ficado surpreendido com os resultados do Rio Grande do Sul e de Porto Alegre. “No caso de Porto Alegre, que não tem uma população tão grande de pretos e pardos, os resultados mostram que essa população está ainda mais vulnerável. Além de minoritária no sentido de acesso (à saúde), também é minoritária em quantidade. Na Bahia, por exemplo, são grupos minoritários no sentido de acesso, mas não no contingente populacional. E aqui não, o que agrava ainda mais a situação dessas pessoas”, explica Rodrigues.
Na maioria dos estados, as capitais tiveram índices de mortalidade de não-brancos mais elevados em relação ao próprio estado. Além de serem as cidades mais populosas, foram também a porta de entrada para o coronavírus: o vírus chegou principalmente pelos aeroportos e estradas que levam às grandes cidades.
A íntegra das informações está disponível no site Sul21.
Deixe uma resposta
Want to join the discussion?Feel free to contribute!